sábado, 21 de novembro de 2009

Futucando a Memória

"Escrever é futucar a memória", diz a autora de "As Meninas" para explicar suas reticências ao falar. Principalmente quando a conversa se aproxima de revelações mais dolorosas sobre a vida e os despenhadeiros da alma, que ela como poucos retrata em seus livros. Mário dá um empurrãozinho discreto e respeitoso. O suficiente para Lygia seguir "futucando as lembranças".

Ela fala da morte prematura do primeiro marido e destacado jurista Gofredo Telles, e mais prematura e dolorosa ainda morte do filho, Gofredo da Silva Telles Neto, o brilhante e promissor documentarista paulista. O jovem com profundas ligações com a Bahia, que amava Salvador com a devoção dos iniciados no axé, nos terreiros de candomblé, da gente que vive no casario do bairro de Santo Antonio, do Além do Carmo e do Pelourinho. Espaços que o filho resgatou "em um dos mais bonitos e comoventes filmes que realizou antes de partir", recorda a mãe comovida.

A escritora lembra também do segundo marido, o saudoso Paulo Emílio Salles Gomes, professor da USP, estudioso e mestre insuperável das coisas ligadas à história e à cultura do cinema brasileiro. Pioneiro das Jornadas de Cinema da Bahia nos anos 60/70, evento hoje internacional, criado e mantido sempre por Guido Araújo.

Perdas e danos que fizeram a autora de "Ciranda de Pedras" e "Antes do Baile" ficar "sozinha, reclusa, solitária". Lygia conta que foi salva das profundezas da depressão pelos livros e personagens de sua obra com os quais segue convivendo, "inclusive o gato", um de seus personagens recorrentes. Salva também, confessa, pela entrada na ABL, onde se sente à vontade na hora do chá e das conversas com os seus iguais.

Ligia confessa no ar, ao final da conversa com Mário, que só fica preocupada quando eventualmente dá um espirro na Academia e sempre aparece alguém cheio de expectativas com a pergunta:

"É pneumonia?"

Se fumasse, teria enfrentado a turma politicamente correta e pedido um legítimo charuto cubano para completar o prazer do domingo em casa. O que se pode pedir mais depois de saborear uma entrevista tão densa e tão rica, mesmo em reprise, com Lygia Fagundes Telles?

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site-blog Bahia em Pauta ( http://bahiaempauta.com.br/).

Nice

3 comentários:

Bárbara disse...

Tenho PAIXÃO pela Lygia, é minha escritora preferida. Tenho 25 anos e "Ciranda de Pedra" foi o livro que mais mexeu comigo até hoje. Li pela primeira vez aos 15 anos, chorei de soluçar. Reli aos 23 anos e novamente chorei muito, de soluçar - especialmente na parte em que Virgínia ainda é criança. Foi a personagem que mais mexeu comigo.

A forma como a Lygia conta as histórias e descreve os detalhes da alma, me levou aos seus outros livros. Além de "Ciranda de Pedra", até hoje li "Seminário dos Ratos", "Venha ver o pôr do sol", "As Horas Nuas", "A Estrutura da Bolha de Sabão", "Invenção e Memória" e quero ler todos.

Sou curitibana, moro em São Paulo há 2 anos e tenho um desejo enorme de conhecer a Lygia, ouvi-la falar, contar pra ela o quanto Virgínia mexeu comigo. Seria uma enorme honra. Nem que fosse por e-mail mesmo.

Gostaria de saber: quem cuida desse blog? Não consegui encontrar o e-mail para contato com ela... Alguém pode me ajudar?

Meu e-mail é: bbufrem@gmail.com
Segue também o link para mais informações sobre mim: http://www.google.com/profiles/bbufrem

Aguardo algum contato.
Obrigada e um 2010 muito lindo pra Lygia e toda sua família!

Bárbara disse...

Ah, esqueci de contar! Criei uma comunidade para ela no Livreiro há algum tempo: http://www.olivreiro.com.br/comunidade/280-lygia-fagundes-telles

Anônimo disse...

Boa tarde!
Pessoal esse blog é ótimo, gostaria que os responsáveis se possível, atualizassem o blog.
estou realizando uma pesquisa sobre a Lygia e estou amando conhece-lá.
abraços