Ao jornalista Cassiano Elek Machado (Folha de S. Paulo, 17/4/2004) ela contou o tipo de impulso que, na infância, a levou à literatura. Um dia, conta Machado, a menina Lygia bordava num canto da casa em Sertãozinho (SP) quando sua mãe lhe contou a história de uma bisavó, Elzira. Poetisa, pianista, apaixonou-se por um médico recém-formado, de nome Paixão, que encontrara em uma novena. Negro, foi pedir a mão de Elzira. A família rejeitou. Desiludido, Paixão encontrou-se com Elzira em dia de tempestade antes de abandonar a cidade.
"Ela chegou em casa outra pessoa. Não escreveu mais versos, não tocou mais o cravo, comia e falava pouco. Todas as noites punha no peito uma toalha ensopada de água. Ficou tuberculosa. Seis meses depois da partida dele, morreu. Quiseram chamar o doutor Paixão. Mas não havia naquele tempo jornal nem internet. Ele nem soube da morte dela", contou Lygia a Machado.Na cidade castigada pela seca não havia flores nos jardins para a sepultura. É então que uma sineta toca. "Chega um moço lindo, com uma braçada de lírios recém-colhidos para cobrir o caixão de Elzira." Antes que o pai alcançasse o mensageiro para identificá-lo, ele se evapora. "Era um anjo", conclui Lygia, que desde então abraçou o mistério literário, que é outra forma de falar que tudo que é narrativo é parte do mistério do mundo.
Um comentário:
Bela foto!
Lygia em frente à estante de livros, sempre reflexiva, atuante inteligente.
Oh, raio de luz!
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